Dia 5 da conferência traz alertas científicos, mobilização indígena e alta presença de representantes do setor fóssil
Durante o quinto dia da COP30, em Belém (PA), cientistas, povos indígenas e observadores da indústria fóssil marcaram presença com mensagens fortes sobre o futuro do planeta.
Alerta científico: fim dos fósseis é urgente
No Pavilhão da Ciência, nove dos principais pesquisadores climáticos do mundo, incluindo o brasileiro Carlos Nobre, o sueco Johan Rockström e a alemã Ricarda Winkelmann, emitiram um manifesto aos negociadores da conferência. Eles destacaram a necessidade de reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa em 5% ao ano e afirmaram que a eliminação rápida dos combustíveis fósseis é indispensável para evitar os pontos de não-retorno do aquecimento global. Segundo os especialistas, a COP30 é tão decisiva quanto a histórica COP21, que aprovou o Acordo de Paris.
Recorde de lobistas da indústria fóssil
A sexta-feira também registrou um recorde preocupante: a maior proporção de lobistas do setor fóssil desde 2021. Um levantamento da coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO) apontou que 1.602 representantes de empresas de petróleo, gás e grupos comerciais ligados à indústria estão credenciados na conferência — cerca de um a cada 25 participantes. Esse número supera a soma das delegações dos dez países mais vulneráveis às mudanças climáticas: Chade, Eritreia, Guiné-Bissau, Ilhas Salomão, Micronésia, Níger, Serra Leoa, Somália, Sudão e Tonga.
Protestos indígenas e negociações com governo
Indígenas dos rios Tapajós e Arapiuns realizaram protestos na entrada principal da Zona Azul, cobrando a demarcação de terras, a revogação de decreto federal sobre hidrovias e o arquivamento do projeto Ferrogrão. A mobilização gerou filas e obrigou a criação de rotas alternativas de acesso. Mais tarde, representantes de 13 etnias do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA) retomaram a concentração no mesmo local.
A situação foi contornada com a mediação do presidente Lula, que enviou uma comissão formada pelas ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas), além do embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30. O diálogo inicial aconteceu fora do pavilhão e liberou o acesso principal, gerando a imagem simbólica de Corrêa do Lago segurando uma criança indígena nos braços. Sessões adicionais ocorreram em auditório do Tribunal de Justiça do Pará, denominado “zona azul nacional” por Marina Silva. Duas novas demarcações de terras foram anunciadas durante as negociações.
Impactos do clima no cotidiano indígena
Indígenas do médio rio Negro relataram como as mudanças climáticas alteraram a frutificação do açaí e o comportamento das queixadas, que têm invadido roçados por falta de alimento. O mapeamento desses efeitos é conduzido pelo Instituto Socioambiental.
União Europeia propõe plano para transição justa
A União Europeia apresentou um plano de ação voltado à transição justa, focando em compartilhamento de experiências, proteção de trabalhadores e comunidades vulneráveis. A proposta surge como contraponto à iniciativa do G-77, que defendia a criação do BAM (Mecanismo de Ação de Belém) dentro da Convenção do Clima, financiado pelos países ricos. Contrapropostas desse tipo já ocorreram em COPs anteriores, como em Kyoto, em 1997.
EUA recebem “Fóssil do Dia”
O antiprêmio “Fóssil do Dia”, concedido pela coalizão de ONGs Climate Action Network (CAN) aos países que mais dificultam as negociações climáticas, foi entregue aos Estados Unidos. O país, que se retirou novamente do Acordo de Paris, divide a liderança histórica do prêmio com a Arábia Saudita.